Vendo, vivendo, ouvindo, pensando, penando,
pesando e sentido que nesse mundo de injustiça, desigualdade, preconceituoso,
machista, depressivo, homofóbico, alimentado por verdadeiros paradigmas de:
Hitler, Mombassa, Idi Amin, Evo Morales, os irmãos Raul e Fidel – literalmente
– Castro.
Nesse mundo onde somente os abastados sociais
e filhinhos de papais têm direito há impunidade, uma saúde de qualidade, uma
educação britânica e de metodologia mais expoentes que ás de Piaget,
Montessoriano e de Augusto Cury juntas.
Resolvi por um final em minha vida e isso
pelo instrumento mais utilizado por aqueles que não têm mais o que perder.
Tentei cortar meus pulsos e só não o fiz por
dois, explicáveis motivos, o primeiro é que não posso ver sangue, pois passo
mal e o segundo, e, mais importante é que hoje em dia não podemos confiar em
nada e ninguém. Já pensaram vocês, eu cortando meus pulsos e descobrir, após o
ato, que contraí, através da gilete, uma infecção até generalizada?
Dirigi-me até a Estação Paraíso do metrô,
isso no dia 11 do 11 de 2011 que seria uma data cabalística e de marco isso em
razão de tantos onze juntos, e quando fui atirar-me nos trilhos onde um trem se
aproximava, tocou meu telefone. Era meu alfaiate dizendo que meus dois ternos
estavam prontos, e, como não poderia deixá-lo no prejuízo, adiei minha
auto-morte.
Daí, resolvi atirar-me de cima do viaduto do Chá,
no Vale do Anhangabaú, que era para chamar á atenção dos repórteres das
programações sensacionalistas, e, bem no momento em que iria me lançar. Passa
por mim um garoto e esbarra seu sorvete na minha camisa, camisa essa que mais gosto,
fiquei louco da vida. Com isso fui obrigado a adiar novamente meu ato final de
vida, pois teria que tirar imediatamente aquela mancha promovida pelo sorvete,
até por que existem manchas que se não tiradas na hora você perde a roupa que
esta usando ou compromete a mesma pelo desuso eteno.
Consegui, então, para praticar minha própria
morte, comprar um revolver automático de última geração e sem aquele selinho de
Made In China, lindo e maravilhoso, folhado a ouro com cabo de marfim cravejado
de diamantes e de calibre 765 com porte e tudo. Pois, seria brega e de muito
mau gosto usar um calibre 38 ou um 22. Porém
antes de pagar, a vista, e, em cheque especial queria um desconto, também,
especial.
E de tanto insistir com o vendedor, fui
encaminhado até o gerente aceitou dar-me um desconto de 15% além de um cartucho
a mais. Feito isso, coloquei as balas
no pente da mesma, vesti-me em um terno marinho de belíssimo corte, engraxei
meus sapatos, escrevi uma linda carta de despedida, e, de posse de um taxi,
pedi que o mesmo levasse-me ao aeroporto de Congonhas. E ao chegar embarquei com
destino ao Rio de Janeiro, pois aos pés do Cristo Redentor me auto-executaria.
E quando coloquei a arma no céu da boca para
fazer o disparo, lembrei-me de cinco esquecimentos, o primeiro foi o de não ter
pego, na loja, a nota fiscal paulista, o segundo e de não ter feito a transferência
de dinheiro entre os bancos em que tenho conta, pois o cheque da arma iria
voltar por ausência de fundos, o terceiro foi o de não ter pago a última conta
de luz, o quarto foi que no dia seguinte eu teria que participar da reunião de
condomínio e o quinto e mais importante, imaginem, esqueci de comprar um caixão
personalizado, da cor azul marinho com detalhes em branco e carmim, além do ar
condicionado é claro, e, nada de cravos no caixão, pois sou alérgico aos
mesmos.
Eureca... Vou me matar-me bem no cruzamento
entre a Ipiranga com a Avenida São João, isso em razão de homenagear Caetano
Veloso pelo mesmo ter homenageado a São Paulo, na canção por ele nominada Sampa.
Chegando até o lugar esperei um tanto
quanto afoito e com as mãos já meio tremulas e em pleno ataque de uma sudorese
desagradável, talvez pela ansiedade, atirei-me na frente de uma BMW branca,
isso em razão de ter esperado mais de 5 horas por um Poche Carreira ou uma
lamborghini e sem sucesso.
Repentinamente, como num passe de mágica, desce
da BMW gritando tal qual uma louca e gritando como uma hiena disse-me... – O
senhor esta desequilibrado ou por acaso esta tentando contra a própria vida?
Imediatamente lhe devolvi a seguinte resposta
– Perdoe-me senhorita gostaria de lhe dizer que não, mas estaria mentindo, e,
se eu mentisse teria que novamente me confessar com o Padre Aristides e isso atrasaria
meu auto-suicídio.
Ainda mais revoltada, sob forte estresse
flagrante e chorando compulsivamente, replicou-me – O senhor é um desumano ser,
não percebeu que acabei de lavar e polir meu carro? Será que nunca lhe passou
pela cabeça ser mais elegante e civilizado, agendando uma data comigo para
atropelá-lo fatalmente?
Pois, não fiz as unhas, não lavei os cabelos,
nem tive tempo de vestir-me com meu tailleur preto, tailleur esse de grife adquirido
na Rua Oscar Freire e pago a peso de ouro lá nos jardins? E tem mais, como é que o senhor planeja um
suicídio sem um mínimo de organização, sem requintes de charme e bom gosto? Isso sem contar o fato imperdoável do senhor
não ter convidado, antes, à imprensa televisiva, falada e escrita, e, sua
desumanidade é tanta que nem notou que estou na TPM e isso deixa minha pele
horrível e meu estado de humor alterado. Seu irresponsável e futuro morrente!
E vendo à desordem que minha tentativa de me
auto matar-me causou, frustrado mais uma vez voltei para casa para pensar em
uma nova tentativa.
Foi quando lembrei-me de um de meus melhores amigos.
Amigo esse que jamais deixou há desejar em relação as minhas necessidades, pois
quando me ausentava por alguns dias de minha casa, para viajar a pedido do
mesmo, ele, sem hesitar tampouco fazer-se de rogado, cuidava de minha esposa
cercando-a de todos os cuidados, chegando até ao sacrifício de dormir com a
mesma para que se ela tivesse qualquer espécie e pesadelo, ele lá estaria para
protegê-la.
Depois, dizem que não podemos confiar em
ninguém, o que não é o meu caso, pois minha admiração e orgulho por esse meu
melhor amigo é tão latente que, acreditem se quiserem, meus dois filhos são
parecidíssimos com ele. Para que não hajam dúvidas sobre nossa amizade, quando
minha esposa ficou grávida de meu primeiro filho, convidei-o para que o mesmo
me acompanhasse até meu urologista.
Na mesma hora ouvi sua concordância e quando
lá chegamos fui entrando e dando pontapés em tudo que encontrava em seu
consultório e aos gritos disse-lhe segurando-o pelos colarinhos. – Você deve
ter comprado, de camelôs do Paraguai e Chinatown, todos esses diplomas que
estão forrando as oito paredes de suas duas salas. E quanto ao fato de te darem
a fama, o título e o reconhecimento, até internacional, de um dos melhores, se
não o melhor, urologista do Brasil. Eu estou aqui para provar que tudo isso é
uma farsa, pois minha esposa esta grávida seu corno.
Pegando-me pelo braço, esse mais que irmão,
retirou-me daquele consultório que prometi para mim mesmo jamais pôr os pés, ele,
esse meu melhor amigo, tão importante em minha vida e na vida de minha esposa,
que não foi apenas uma, duas ou dez vezes e sim muitas, que minha mulher, nas
horas de seus orgasmos, grita pelo seu nome ao invés do meu.
E esse amigo que carinhosamente chamam de Ricardão
que recomendou-me aquele tal veneno de rato que são feitos de partículas azuis.
Essa amizade é tão significativa que -
imaginem leitores – sem que eu lhe pedisse ele se prontificou em que eu
passasse para o seu nome todos os meus bens, tais como: ações, letras de
câmbio, e outros investimentos mercantis, minhas três contas poupanças e até,
pasmem, minhas duas contas que mantenho nos bancos suíços, além, de um
apartamento, tríplex de cobertura, na praia de Copacabana, duas casas no Morumbi
uma com 1200 metros quadrados de construção fora as duas piscinas aquecidas e
um campo de futebol society. Meus quatro carros importados e duas motos também
importadas e mais uma fazenda de corte e outra de plantio.
Sabem com que, solidário, argumento me fez transferir
tudo que tenho para o seu nome? – Meu amigo e irmão, com a tua morte pelo
teu suicídio, tua esposa e teus filhos não terão cabeça para administrar teus
bens, e é com muito sacrifício que farei tudo isso gratuitamente. Não sabe você
a dor que isso vai me causar, mas jamais poderia deixá-lo ir, com á
irresponsabilidade de não ter deixado um administrador de seus bens.
E eu como não poderia deixar de confiar no
mesmo, após passar todos os meus bens para o seu nome comprei o tal do veneno
de ratos, coloquei-os num copo d’água e quando fui tomá-los, lembrei-me de
minha médica Dra. Iracema dos Cordéis, quando a mesma dizia – Cecél, nunca tome
remédios de estomago vazio, pois poderá lhe trazer desconfortos intestinais
após algum tempo e depois de tomá-los e não se esqueça de evitar bebidas ou
alimentos com corantes.
Por respeito, lembrança e recomendação dessa
amiga e Dra. Iracema dos Cordéis que resolvi optar por alternativa ainda não
experimentada de me auto-matar-me.
Como seria leviano e traidor não ter optado
pela opção oferecida de Ricardão, meu melhor e protetor amigo, dirigi-me até
ele e disse-lhe tudo o que acontecerá e que se ele poderia me perdoar.
Provando mais uma vez seu amor pela nossa
amizade, além de perdoar-me, sugeriu-me, de pronto, que me trancasse em um dos
meus apartamentos, principalmente a cozinha e abrisse todas as bocas do fogão
incluindo o forno, porém antes de fazê-lo tomou o cuidado de lembrar-me também
que enfiasse uma chave de fenda no botijão de gás reserva, daí eu deveria me
deitar e pronto, por estes atos conseguiria meu intento.
Acabando de ouvi-lo, fui lá eu para executar
minha tarefa de auto-extinguir-me, foi quando em minha cozinha estava e com o
gás aberto comecei sentir certo ardume nos olhos e muito puto de vida, lembrei
que tinha oculista marcado ainda nessa primeira quinzena do mês, e esse
oculista é daqueles que temos que esperar até três meses para consegui uma
consulta com o mesmo.
Resultado... Tive que novamente cancelar meu
ato final de vida.
Com todo esse meu desejo de suicidar-me, não
posso fazê-lo, pois tenho uma conta para pagar urgente até a terça-feira
próxima, pois caso contrário, cortarão minha internet.
No sábado tenho também marcado visita ao meu podólogo
para que o mesmo me extraia uma unha encravada antes que a mesma inflame.
E preciso urgentemente marcar, com um médico
alergista, para que o mesmo me receite algum medicamento, pois, aqueles
chumaços de algodão que colocarão em meu cadáver me darão alergia, sem contar a
vontade de espirrar que o mesmo provoca.
E por último, preciso procurar um administrador
de cemitério que me permita fazer um teste drive-in para que eu possa aprovar
meu enterro e que o mesmo me ofereça um jazigo onde o mesmo seja provido de uma
cova confortável, com luz, água encanada, chuveiro e telefone e que tenha no
mínimo pelo menos cinco bicos de energia que servirá para a geladeira, a
televisão, o telefone, meu aparelho de purificação de ar e a internet.
Já sei - pensei eu. – Vou atear fogo em meu
próprio corpo que é meu. Tão logo essa idéia encheu meu coração de esperança de
finalmente me auto- assassinar-me, dirigi-me até um posto de gasolina e disse
ao frentista. - Por gentileza meu jovem qual seria o melhor combustível que
você tem aí para que eu possa botar fogo em meu próprio corpo. Respondeu-me
atônito o frentista – Não faça isso senhor, pois os preços tanto da gasolina e do
álcool estão pela hora da morte, e, se o senhor for se matar usando um dos
dois, estará jogando dinheiro fora, e, tem mais, se esse seu paletó pegar fogo
não existirá alfaiate, no mundo, que o reconstitua.
Incrível que quando vamos nos auto-matarmos
através e por meio de nosso auto-suicídio, esquecemos de tantos detalhes bobos,
detalhes esses que podem ser fatais e até levar-nos há um estado de coma ou a uma
desgraça, ainda maior e pior, que é a morte acidental.
Há bem da verdade eu quero me matar por que
morro de medo só de pensar em morrer.
Cecél Garcia
28-05-2012
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